Comentaristas e torcedores adoram jogar o jogo de “Quem venceu a janela de transferências?”
Mas a resposta depende de como contamos os pontos. Esta janela é um pouco diferente das outras, já que os jogadores fazem sua carreira no futebol de clubes, mas com a Copa do Mundo a pouco mais de nove meses de distância, a chance de brilhar com a seleção também é um fator importante na mente de muitos. Alguns jogadores claramente usaram esta janela para ganhar espaço no cenário internacional — especialmente os sul-americanos.
A Argentina busca fazer algo inédito: defender o título mundial em outro continente. A chave do sucesso da equipe, claro, tem sido Lionel Messi. E um dos pontos baixos para o técnico Lionel Scaloni, mesmo após dar ao Brasil sua primeira derrota em casa nas Eliminatórias, foi a evidência clara do declínio de Messi.
O técnico chegou a cogitar sair no fim de 2023, mas depois começou a planejar um futuro onde Messi talvez não fosse mais o centro de tudo.
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É claro que não há substituto à altura de Messi. Mas grandes times são feitos de pequenas parcerias, e o melhor dos últimos meses foi o surgimento do meia-atacante Thiago Almada como força importante, além de sua parceria com o atacante Julián Álvarez.
Nas 16 rodadas das Eliminatórias até agora, o ponto alto da Argentina foi em março, quando, sem Messi, venceu o Uruguai por 1 a 0 fora de casa e depois atropelou o Brasil por 4 a 1. Em ambos os jogos, a dupla Álvarez-Almada foi fundamental. Agora que Almada trocou o Lyon pelo Atlético de Madrid, os dois jogam juntos toda semana.
Ainda não houve um início dos sonhos para o time de Diego Simeone — nas três primeiras rodadas de LaLiga, foram uma derrota e dois empates. Mas cada partida fortalece ainda mais o entrosamento da dupla para a Copa.
Substituir o imenso talento de Ángel Di María é outro desafio. Ao entrar na campanha das Eliminatórias, o nome mais cotado para sucedê-lo parecia ser Alejandro Garnacho, com sua velocidade e capacidade no um contra um. Mas ele fez apenas três aparições como reserva nas Eliminatórias, a última em novembro.
Parecia que ele tinha estagnado no Manchester United. Seu novo clube, o Chelsea, tem tantos jogadores que ainda não está claro como o jovem de 21 anos vai se encaixar. Mas um novo começo pode dar o impulso necessário para voltar à disputa por uma vaga na seleção.
Enquanto isso, alguns jogadores podem ver a estabilidade como uma virtude. Houve especulações de que Cristian Romero poderia deixar o Tottenham e até se juntar a Simeone no Atlético de Madrid. Mas, com o zagueiro prestes a ter um papel ainda mais importante na Argentina do que teve no Catar, ele considerou mais sábio permanecer nos Spurs, onde foi nomeado capitão do clube.
Já o grande movimento duplo envolvendo brasileiros não aconteceu — e ambos acabaram ficando onde estavam. Rodrygo, do Real Madrid, e Savinho, do Manchester City, eram nomes regulares na seleção e geralmente titulares.
Mas ambos ficaram de fora das duas primeiras convocações de Carlo Ancelotti. Houve muita especulação sobre uma possível ida de Rodrygo ao City, o que abriria caminho para Savinho ir ao Tottenham — com os dois ganhando papéis mais relevantes em seus novos clubes. Mas, embora não pareça totalmente satisfeito onde está, Rodrygo optou por ficar, e a janela de janeiro ainda pode trazer novidades.
Antony, por sua vez, ao mesmo tempo se transferiu e ficou. O Manchester United aceitou um grande prejuízo e permitiu que o ponta continuasse no Real Betis, onde viveu uma espécie de renascimento durante o empréstimo no segundo semestre da última temporada.
Isso é excelente para suas ambições com a seleção. Ancelotti é admirador de seu futebol e, surpreendentemente, o convocou na sua primeira lista em junho. Ele ficou fora dos jogos desta semana, mas agora voltará a jogar regularmente em um clube onde claramente está feliz.
A disputa pela camisa 9 do Brasil também está esquentando. João Pedro já colheu frutos imediatos da sua ida ao Chelsea, saindo das férias direto para brilhar na conquista do Mundial de Clubes da FIFA. Isso fez muito bem para sua imagem no Brasil e aumentou bastante suas chances de se firmar na seleção.
Matheus Cunha também fez uma grande mudança. Destaque da seleção brasileira sub-23 que conquistou o ouro olímpico em Tóquio em 2021, ele teve o azar de não ir ao Catar. Mesmo em meio ao atual momento turbulento, o Manchester United oferece a Cunha uma visibilidade e uma vitrine muito maiores do que o Wolverhampton ou qualquer um de seus clubes europeus anteriores. Ele estava cotado para voltar à seleção brasileira nos próximos dias, até que uma lesão o tirou da convocação.
Seu substituto é bastante interessante. Ancelotti convocou de última hora Samuel Lino, do Flamengo — um jogador que, até poucos meses atrás, era praticamente desconhecido da maioria dos torcedores brasileiros.
Lino é um entre um número crescente de brasileiros que fizeram quase toda a carreira na Europa. Mas, com dinheiro em caixa após o Mundial de Clubes, o Flamengo contratou o ponta-esquerda do Atlético de Madrid. E ao fim de um mês impressionante com o clube carioca, ele já conquistou o reconhecimento da seleção.
E ele não é o único a colher os frutos de atuar em um grande clube brasileiro.
O Palmeiras vinha tentando contratar o meia Andreas Pereira há algum tempo. Na janela anterior, ele não demonstrava interesse — queria, caso deixasse o Fulham, ir para um clube europeu de maior porte. Agora, mudou de ideia.
Com um elenco muito forte, o Palmeiras está na briga tanto pelo Brasileirão quanto pela Copa Libertadores. Pereira não veste a camisa da seleção desde que marcou um golaço contra o Peru em outubro. Jogando no Palmeiras, pode ter a chance de voltar. E 2026 provavelmente será sua única oportunidade real de disputar uma Copa do Mundo — algo que certamente influenciou sua decisão de cruzar o Atlântico.
Vários colombianos também estão tentando impulsionar suas chances de ir à Copa trocando a Europa pelo Brasil. A seleção da Colômbia vive um momento de transição. Uma vitória em casa contra a Bolívia nesta quinta garante a vaga na Copa, mas o clima interno é de desânimo.
Após uma longa invencibilidade terminar com a derrota na final da Copa América do ano passado, o time de Néstor Lorenzo parece estar passando por uma crise de confiança. São seis jogos sem vencer. E o modelo de jogo — James Rodríguez mais dois atacantes, com um meio-campo disciplinado para equilibrar — parece estar se desgastando. Isso abre espaço para novos nomes, e alguns jogadores da “beirada” do elenco claramente viram nisso uma oportunidade.
O nome mais chamativo é Jorge Carrascal, potencial substituto de James na função de armador, com duas partidas como titular e seis saindo do banco nas Eliminatórias. Ele trocou o Dínamo Moscou pelo Flamengo. Isso pode aumentar sua visibilidade, mas no elenco estrelado do novo clube, ele terá de brigar por minutos em campo.
Esse não deve ser um problema para o elegante zagueiro Carlos Cuesta (quatro jogos como titular e um como reserva nas Eliminatórias), que, após longa passagem pela Bélgica, trocou o Galatasaray, da Turquia, pelo Vasco da Gama — clube que luta contra o rebaixamento no Brasileirão.
Cuesta se junta a outro recém-contratado, o ponta Andrés Gómez, que saiu da MLS e, mais recentemente, jogou pelo Rennes, da Ligue 1. Gómez já entrou em campo algumas vezes como reserva e parece disputar posição na seleção com o também ponta Luis Sinisterra — ex-Premier League, que, após uma temporada com muitas lesões no Bournemouth, foi emprestado ao Cruzeiro, que briga pelo título brasileiro.
Esses jogadores “venceram a janela de transferências”?
A resposta definitiva só virá no meio do ano que vem, quando as listas para a Copa do Mundo de 2026 forem divulgadas.
